Situada
junto ao Rio Mira, a freguesia de Santa Maria, forma juntamente com a
freguesia de Salvador a Vila de Odemira, sede de concelho, no distrito
de Beja; tem por orago Nossa Senhora da Piedade, anualmente celebrada a
8 do mês de Setembro, feriado Municipal do Concelho.
Rodeada por diversos cursos de água e com uma grande diversidade de
fauna e de flora, ambas de grande valor científico, a freguesia de
Santa Maria foi bastante produtiva, pelo que se depreende que tenha
sido povoada em épocas imemoriais, devido essencialmente à abundância
de água e consequente fertilização dos terrenos, factores que nos
primórdios das civilizações constituíam os grandes incentivos à fixação
das populações nos locais.
O território de Odemira, onde se insere esta freguesia foi conquistado
aos mouros por D. Afonso Henriques, em 1166 e quase um século depois,
em 1256, recebeu carta de foral de D. Afonso III. D. Dinis, por carta
dada em Benfica, Lisboa, em 24 de Setembro de 1319, fez a doação do
território ao Almirante Manuel Peçanha, confirmando todos os
aforamentos anteriores. Este último foral viria depois a ser renovado
por D. Manuel I, em 5 de Setembro de 1510.
Eclesiasticamente, a freguesia de Santa Maria foi uma reitoria do
padroado real, tendo o seu reitor um rendimento anual de duzentos e
cinquenta mil réis. Quando em 1835 foi profanada e demolida a Igreja
Paroquial de Santa Maria, passou a servir de paróquia a do convento de
Santo António.
Relativamente ao património cultural e edificado da freguesia, são
merecedores de destaque a actual Igreja de Santa Maria, a capela de
Nossa Senhora da Piedade e o Monumento - Sarilho do Barco, onde as
pessoas se ajoelhavam e oravam antes de atravessarem o rio de barco.
Retrospectiva Histórica por António Quaresma «A
freguesia de Santa Maria é, juntamente com a de Salvador, uma das duas
freguesias que remontam à época medieval, bem como uma das duas
freguesias urbanas de Odemira. Pode dizer-se que, à data do foral de
1256, cujo 750.º aniversário se comemora, já existiria a freguesia de
Santa Maria.
O seu primitivo território incluía grande parte das actuais freguesias
de S. Teotónio, Sabóia e Relíquias, entre as freguesias históricas de
Odemira, sendo então mais importante do que a de Salvador.
Com a criação das freguesias rurais, em finais do século XVI, foi
amputada de grande parte do seu termo. Já no século XX, com a fundação
da freguesia de Luzianes e, recentemente, com a de Boavista dos
Pinheiros, foi-lhe retirada mais uma fracção de território.
Actualmente, a freguesia tem uma área de 59, 241 Km 2 , menor do que a
maioria das restantes freguesias; de ressalvar, porém, que nela se
inclui parte da vila de Odemira, sede concelhia, embora no geral a
densidade populacional seja baixa. Assinale-se também que, por
sudoeste, o seu território é banhado e delimitado pelo rio Mira.
Os
nomes religiosos de Santa Maria e Salvador são frequentes nas
primitivas freguesias, das vilas saídas da Reconquista , e reflectem as
condições ideológicas da época. Cada freguesia tinha então sua igreja
matiz, lugar de culto e símbolo do poder religioso. No caso da de Santa
Maria, a igreja foi demolida na primeira metade do século XIX, depois
de ter chegado a grande estado de ruína, sendo substituída durante
alguns anos pela ermida de S. Sebastião (actual Núcleo Cultural e
Desportivo). Posteriormente, com a nacionalização dos bens dos
conventos durante a monarquia liberal, a igreja do antigo convento de
Santo António, dos franciscanos, foi cedida à paróquia de Santa Maria
para servir de sua matriz, tal como hoje se encontra.
A festa religiosa tradicional de Odemira é dedicada a Nossa Senhora da
Piedade, cuja capela, construída em princípios do século XX, se situa
nesta freguesia. A ela se refere aparentemente uma das Cantigas de
Santa Maria , de Afonso X, o Sábio. A antiga ermida, hoje quase
imperceptível, situava-se nas proximidades, mas mais perto do rio, onde
existia uma barca da passagem, cujo processo de locomoção exigia a
fixação de um cabo nas duas margens. Um dos padrões onde se prendia e
aliviava ou esticava esse cabo faz parte do brasão de armas da
freguesia.
Freguesia urbana, sempre esteve, contudo, economicamente, baseada numa
economia rural, em que se destacavam a cultura de cereais, a cortiça e
a criação de gado, economia hoje em decadência. Actualmente, a
silvicultura ainda tem importância e assenta no tradicional sobreiro e
no eucalipto.»
Autoria: Antonio Quaresma