Depois do sucesso alcançado pela recriação, no ano de 2011, do Ciclo do Milho, o Rancho Folclórico “Os Camponeses da Beira-Ria”, o Rancho Folclórico “As Andorinhas de S. Silvestre”, a Confraria Gastronómica “O Moliceiro”, a Associação Desportiva e Recreativa das Quintas e o Núcleo da Murtosa da Fraternidade de Nuno Álvares abraçaram, este ano, o desafio levar a efeito o Ciclo do Linho.
Pelo segundo ano consecutivo, estas colectividades concelhias agarraram na ideia lançada pelo executivo municipal e decidiram recriar, este ano, o Ciclo do Linho.
Assim, no horário estabelecido (15H00), o recinto da Casa-Museu “Custódio Prato” tinha já bastantes pessoas que pretendiam assistir à anunciada recriação. Os protagonistas, elementos dos dois grupos folclóricos acima referidos e o Sr. Engº Baptista (Presidente da Câmara Municipal), estavam também preparados para entrar em cena, o que aconteceu logo após.
Uma equipa constituída por cinco lavadores e quatro lavradeiras fizeram-se ao terreno, conduzindo um deles uma junta de vacas de raça marinhoa cangada a um carro que transportava uma charrua e uma grade.
Dois lavradores trabalharam com as vacas, primeiro a lavrar o terreno (com a charrua de ferro) e depois a gradá-lo (com a grade de madeira). Ao mesmo tempo os restantes lavradores cavaram os cabeceiros (com a enxada própria) enquanto as lavradeiras com os ancinhos de madeira escolhiam algum panasco que a grade levantou e desfaziam algum torrão do terreno. Este foi o trabalho prévio de preparação do terreno.
Depois, à mão, foi lançada cinza sobre o terreno, para o fertilizar, tendo em seguida sido passada de novo a grade para a misturar no terreno.
Seguiu-se o acto mais esperado, aquele que encerra maior religiosidade, a própria semeadura da semente do linho (linhaça), feita a lanço. O nosso lavrador pegou então no cesto da semente e, sem esquecer o ritual próprio, lançou-a à terra.
Logo após, as lavradoras, de novo com o ancinho de madeira, passaram no terreno, a fim de envolverem devidamente as pequenas semente.
Depois, na eira, houve animação com cantares ao desafio, com Adélia (de Arouca) e o Moreira (de Paredes), acompanhados à concertina pelo Rocha, para agrado geral das centenas de pessoas que se deslocaram ao recinto.
Em simultâneo foi proporcionada a visita à Casa-Museu, a todos quantos o pretenderam fazer.
Parabéns aos grupos participantes e parabéns aos elementos intervenientes, por mais esta actividade, que muito dignifica a nossa cultura popular e a nossa terra.
NOTA: As tarefas de preparação e cultivo do terreno (lavrar, gradar e semear) foram feitas à semelhança daquilo que era habitual nas primeiras décadas do século passado, com alfaias agrícolas, gado, sementes e métodos de trabalho, similares ao da época, incluindo o modo de vestir dos intervenientes/figurantes.
Em Junho será o momento de arrancar, ripar e remolhar o linho, culminando o ciclo com a recriação, em Setembro, do secar, amassar, espadelar, assedar, fiar, barrelar, urdir e tecer do linho.
O Ciclo do Linho, pelas suas características, apresenta-se como uma oportunidade para reviver, em várias etapas ao longo do ano, uma cultura outrora marcante, que urge resgatar da memória, para conhecimento das gerações que nunca viram os momentos sucessivos da transformação de uma planta em tecido.
Com a recriação do Ciclo do Linho, pretende-se reavivar, na memória colectiva, uma actividade hoje praticamente desconhecida dos mais jovens, dando a conhecer os processos tradicionais da cultura do linho, desde a sua plantação até à tecelagem.
