I. Fonte da Feira (construída em 1919).II. Pormenor decorativo da Fonte da Pipa (século XVIII: conjectural): "a boca da água viva".Freguesia de Moimenta da Beira
Contento-me ao ver, ao fim de alguns anos, as duas fontes que ladeiam o edifício da Câmara Municipal de Moimenta da Beira (ambas edificadas por esta autarquia, respectivamente em 1919 e em 1920) brotarem novamente água. Sem dúvida, a prova de que, com pouco custo, os poderes locais conseguem recuperar e valorizar o seu património.Pois, por vezes, basta apenas a sua limpeza, o arranjo do espaço envolvente, a substituição da(s) bica(s), a beneficiação das condutas de água, um ou outro melhoramento, para que se mantenham as suas características originais, reavendo a sua identidade e utilidade, e, ao mesmo tempo, combater a ideia (na minha opinião, errada!) de que as coisas antigas ficam melhor com um toque de modernismo. Na realidade, as coisas antigas apenas têm o seu verdadeiro valor patrimonial se as preservarmos como sempre foram, tanto quanto possível, em função do seu actual estado de conservação e do seu enquadramento.Detendo uma enorme importância histórica, monumental e artística, interessa lembrar aqui que as fontes foram, durante muito tempo, nas nossas praças (largos) e jardins (havendo-as também de uso particular), não só o principal meio de abastecimento de água à população, como também tiveram um papel integrador da vida comunitária, enquanto local de convivência/proximidade. Aliás, nalguns casos, foram mesmo divinizadas, pelas propriedades curativas/terapêuticas das suas águas, daí as chamadas Fontes Santas ou Águas Santas.Como se sabe, a crença nas virtudes da água é universal. Para a maioria das culturas, este recurso natural simboliza a origem da vida (o elemento criador de todas as coisas existentes), a fertilidade, a maternidade (a água fresca que brota do seio da terra), a pureza/purificação, a saúde e a imortalidade.
Vejam-se os exemplos
, na mitologia, de: Calipso, Neréiades, Posídon, Sereia, Tétis, Tritão (algumas das divindades aquáticas gregas), Neptuno (deus romano do mar) e de Sulis (deusa das águas termais e curativas na mitologia celta). Vejam-se os exemplos, no que respeita ao território português, de Tongoenabiago, divindade fluvial adorada na Fonte do Ídolo
(Rua do Raio, Braga) e de Nabia
, divindade aquática venerada pelos Lusitanos, donde derivará a designação do rio Neiva (rio que nasce na serra de Oural, no Minho).Mas mais, ainda hoje encontramos testemunhos do seu culto na maioria das religiões
, espelhadasnas suas diversas manifestações (o exemplo do baptismo nas igrejas cristãs, que é praticado com água, simbolizando o nascimento de um novo ser), na santificação de lugares (na Índia, ainda existe a tradição de se banharem no Ganges, rio considerado sagrado), em peregrinações e romarias, como é o caso da Romaria à Senhora da Hora e da sua emblemática Fonte das Sete Bicas
, uma das maiores romarias da região do Porto, pelo menos desde os inícios do século XIX até meados do século XX.Publicado no Jornal Beirão (62.ª edição)
Testemunhados por diversas epígrafes, monumentos (alguns rupestres), obras poéticas (epopeias...), etc.
Santuário da época romana de
Bracara Augusta. Donde derivará também a denominação do rio Navia, na Galiza.
No Judaísmo e no Islamismo, é ministrado um banho de água purificada aos mortos, representando a passagem para a nova vida espiritual eterna.
Fonte com propriedades casamenteiras.
Autor: José Carlos Santos