Santo António das Areias – breve nota histórica
Toda a documentação aponta para que no “Terreiro das Areias” onde vários caminhos ancestrais se entrecruzam e frescas fontes existem, desde cedo as comunidades que se dispersaram com a pulverização da cidade romana de Ammaia e que pelas serras se refugiaram aqui, pelo menos uma vez no ano, na Primavera, se encontravam para permutarem as suas produções e se acordarem casamentos. No mês de Abril, no “Terreiro das Areias” feira e consequente festa se montava no dia 25 que, rapidamente, a cristandade abençoou com a invocação de S. Marcos, especial protetor dos animais de cornos. No terreiro da feira anual templo aqui se ergueu onde, sobretudo as comunidades locais procurariam proteção para os seus animais e culturas. Constrói-se, portanto uma pequena ermida de S. Marcos, que por estas bandas a sua figura se representa, singularmente, acompanhado por um expressivo touro. Rapidamente, a feira e consequente convívio, no dia S. Marcos, dia de 25 de Abril, ganham popularidade e as comunidades até de mais longe aqui acorrem para troca de animais e demais produções. Feira e festa confundem-se rapidamente e para a bênção dos animais. Com a devida oferenda ao “Senhor”, onde através do hissope, aspergido por mãos de sacerdote, S. Marcos garante fertilidade aos bezerros que a seus pés se aproximem. Levar os touros aos pés do santo, tourada gerava seguramente, mas por prodígio de S. Marcos os animais milagrosamente amansavam. Tudo aponta para a anterioridade da Ermida de S. Marcos em relação ao outro templo que a curta distância, para nascente, no provável limite do outeiro da feira, lá pelo século XVI, se veio a erguer, de maiores dimensões, porque a sua “freguesia” a isso já obrigava, e este, agora, dedicado ao santo que, por essa altura, se popularizava por terras de Portugal, Santo António. Se dermos crédito à data gravada no capitel do cruzeiro que ainda hoje se conserva de fronte da Igreja de Santo António, remontará este templo a 1569, ou pelo menos nesse ano terá passado a sede paroquial. Datará, portanto, a constituição administrativa eclesiástica de sede de freguesia de Santo António, no outeiro das Areias a meados do século XVI. Pela documentação do século XVIII e posterior sabemos que até ao primeiro quartel do século XIX a população da freguesia de Santo António das Areias encontrava-se dispersa por diferentes pequenos aglomerados, ou casais, tais como Barretos, Aires, Cabeçudos, Relva, Tragasal, Abegoa ou, Água da Cuba. Nas imediações da igreja paroquial, até por volta de 1820, apenas a casa do padre, à direita da igreja e a já parcialmente arruinada ermida de S. Marcos ocupavam o Outeiro de Santo António das Areias. Até à autonomia da novel freguesia da Beirã, em 24 de Junho de 1944, estendiam-se as terras administradas por Santo António das Areias desde a Abegoa até à ribeira do Vale do Cano onde se separava das terras do vizinho concelho de Castelo de Vide e bordejava terras de Espanha pelo curso do Rio Sever. Nestas terras de estreitos, mas férteis vales, polvilhados por grandes afloramentos graníticos, estabeleceram-se comunidades humanas desde épocas muito recuadas que desses remotos tempos deixaram importantes testemunhos como antas, menhires, povoados fortificados e faustosas villas romanas. Manteve-se esta freguesia maioritariamente ruralizada até aos alvores da década de 30 do século XX, quando pela mão e astúcia de João Nunes Sequeira aqui estabeleceu, gradualmente, um conjunto diversificado de indústrias que trouxeram a estas terras gentes de várias partes. Continuou este cluster industrial em forte atividade até á década de oitenta do século XX, não conseguindo acompanhar os novos ventos que a abertura da economia exigiam. Uma a uma as indústrias foram encerrando portas e a demografia ressentiu-se naturalmente. Hoje novas perfectivas se abrem e se procuram, quer através da atratividade ambiental e histórica, quer por via dos pequenos polos transformadores que recomeçam a surgir gerando novas economias mais autónomas e diversificadas.
Jorge de Oliveira |