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Tradições
* textos de Ilídio Coelho extraídos do Livro de sua autoria, Notas Monográficas da Paróquia de Santa Maria de Sendim
É com imensa mágoa que vimos desaparecer da face da terra toda uma cultura que ao longo dos anos, os nossos antepassados religiosamente preservaram para a transmitir aos seus descendentes tal como a receberam de seus avós; porque eles sabiam que a raiz dum povo não podia deixar-se morrer; por isso, lutaram sempre com galhardia e tenacidade para a manter viva e sã. E nós?!... O que fizemos para conservar intacto esse sagrado tesouro? Nada... absolutamente nada. Diríamos mesmo, que deixamos perder por falta de zelo, a herança mais preciosa, mais salutar que nos foi doada pelas gerações antigas.
Sabemos contudo, que o mundo evoluiu muito e os povos procuram acompanhar a sua evolução; não seria bom permanecer um sistema caduco e retrógado. No entanto não deveríamos permitir que a poeira corrosiva do tempo apagasse da nossa memória as tradições, as crenças, os usos e costumes; em suma, toda a ideologia social e cultural do nosso povo. Esse povo, maioritariamente constituído por gente pobre e humilde que soube sempre dignificar o nome do seu rincão.
Em sua homenagem, recordemos algumas tradições, já mortas e sepultadas no túmulo do esquecimento; outras, gravemente moribundas, prestes a sucumbir:
Comecemos pelo primeiro dia do ano: o chamado dia de Ano Novo; é feriado nacional e a igreja católica comemora-o como dia santo de guarda, com missa solene e adoração do Menino Jesus. Dantes, a mocidade andava numa roda-viva, de porta em porta, a cantar as Janeiras, sendo uso, os anfitriões obsequiar no final os cantadores ou cantadeiras.
Escolhemos três quadras, das muitas que se cantavam, para conhecimento dos mais novos:
Assim que aqui chegamos E pusemos o pé na escada Aqui mora gente honrada. Logo nosso coração disse
Levantem-se lá senhoras Do banquinho de cortiça Venham-nos dar as Janeiras Um salpicão ou uma chouriça
Se após os cânticos, os forasteiros não eram presenteados da casa, cantavam-lhe a seguinte quadra:
Cantamos e recantamos E voltamos a cantar Estes barbas de farelo Não tiveram que nos dar.
A tradição ou crença (como lhe queiram chamar), saía à rua neste dia primeiro do ano, de braço dado com superstição. Era hábito, ao raiar da aurora, os familiares e amigos visitaremse e festejarem o Novo Ano, desejando mutuamente saúde, paz e amor. Porém, nunca a porta de qualquer casa se abria, sendo mulher a primeira pessoa a querer entrar: porque a mulher era julgada portadora de mau agoiro e consequentemente levava consigo o prenúncio de um ano carregado de trevas para a família visitada. |
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